Ultrapasse a faixa amarela

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Era ela, ele tinha certeza. Não havia muita explicação, mas aquele sorriso de comercial de pasta de dente, aqueles fios de cabelos, mais negros que a asa da graúna, que desenhavam aqueles ombros, em seguida a cintura, até descansarem em seu quadril, e aquele mar disfarçado de olhos diziam pra ele que: era ela. 

Ela também tinha certeza. Aquele segundo foi decisivo para ela. Sabia que aquela mão que lhe seguraria e mostraria caminho. Que aqueles ombros, escondidos por trás daquela camisa quadriculada entre tons de preto, cinza e branco, seria o seu porto seguro. 

Ele estava ouvindo The Smiths. Ela tinha a altura perfeita. “MEU DEUS, COMO DEMORAMOS TANTO PARA NOS CONHECER!”, a mente de ambos berrava. A respiração dos dois começava a ficar incontrolável, parecia mais com um asmático apostando corrida na Brigadeiro. Eles tinham nascido um para o outro, ai de quem ousasse discordar disso. 

Ela estava parada, em frente a porta. Não tinha muito o que fazer, e nem queria, aquela angulação era perfeita.O sorriso dele estava cada vez mais aberto, e ele a decifrava em cada passo que dava, mais próximos do que nunca. A cada segundo um pedaço de visa era transportado por olhar. A cada toque que sentiam, sem saber muito de onde vinha e porque acontecia, a pele arrepiava. A musculatura estava cada vez mais enrijecida. 

Ele estava perto, não perto que ela já sentia a sua respiração. Ele já mergulhava naquele mar imenso e cheio de desilusão. Aquele era o momento. Era um segundo, apenas um segundo, para tudo acontecer.

Ela sorriu. 

Ele sorriu, esboçou timidez e começou a falar: “Você pode...” 

Estação Sumaré, desembarque pelo lado esquerdo do trem

“...vou descer nessa, valeu”. 

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