Almoço de domingo, o que dizer desse evento milenar que consideramos pacas? Primeiro que almoço de domingo não é apenas um almoço de domingo, é o âmbito universal da fofoca, dos conselhos malditos e dos “eu sabia que isso ia acontecer”. Segundo que é o evento do semestre. Vem tio, tia, primo, prima, agregados, agregadas, cachorro, filho do vizinho da comadre da madrinha, vem todo mundo! E com eles as perguntas mais ordinárias do mundo.
Atire a primeira pedra quem nunca foi pego de surpresa com a perguntinha milenar “E aí, tá namorando?”. A gente sabe que, mais cedo ou mais tarde, da boca da tia, da avó ou da prima mais velha, ela vai dar o ar da graça. Você decora a resposta, treina compulsoriamente, levanta a bandeira feminista e deixa o discurso a ponto de bala, na ponta da língua, mas parece que ninguém mais quer saber se você decidiu desencalhar ou seguir vivendo essa vida de solidão.
Almoço dado, café tomado, sobremesa na mão, e lá vem ela. Como uma colher de sal no meio do pavê. Como o amargo do caqui que aperta toda a sua boca. Já era o discurso, já era a bandeira feminista, já era o carão. A testa sua, a mão treme e, de repente, alguém responde a maldita pergunta do mesmo jeito que você responderia. Vocês se olham como quem diz “é isso aí, garota”. E sente que não é a única solteira o mundo.
Em partes, isso aconteceu comigo. Preparei meu discurso, estava pronta para falar tudo o que eu sempre digo, que namorar é abrir mão de várias coisa e que blá blá blá. Serve o almoço, tira o almoço, prepara o café, toma o café, tira o café, serve a sobremesa, tira a sobremesa e começa o papo. Entre uma risada e outra, eu estava ali, esperando minha vez de falar, mas ninguém se importava, ninguém queria saber. E eu me perguntei “por que me preocupo com a opinião dessa gente?”.
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