“Hoje fuma uma macoinha, amanhã toma uma bala, depois cheira um pó e quando vê tá perdido, na rua, afundado no crack.” Esse é um dos discursos mais propagados pela imprensa, por nossa família e até por alguns amigos. Quantas pessoas que você conhece já não disseram: “mas a maconha uma hora para de fazer efeito, e ai a pessoas vai atrás coisas mais fortes...”?
Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mais da metade dos consumidores não fazem uso de nenhuma outra droga, a consomem esporadicamente e, em 90% dos casos, acabam por abandoná-la um dia.
Um estudo, feito nos EUA em 1994, apenas 1% dos usuários de maconha viravam consumidores regulares de cocaína. De 100 americanos que fumaram um cigarro de maconha, 28 também acabaram experimentando cocaína. Dos 28, apenas 12 usaram cocaína 10 vezes ou mais. Destes 12, 5 fizeram uso de cocaína mais de 100 vezes. E dos 5, 1 passou a usar cocaína pelo menos uma vez por semana.
Xavier, não apenas veta a maconha como porta de entrada, mas a intitula de porta de saída. Segundo o psiquiatra, ele incentivou dependentes de crack a usarem cannabis, como parte do programa de limpeza de droga. O resultado foi que: 70% dos usuários abandonaram o crack e, depois de um tempo, a maconha.
Mesmo com todos estes dados, a Cannabis gera muita discórdia, é fonte de muitos estudos, continua sendo vista com maus olhos e a sua legalização é um tabu. Agora o Manifesto quer saber de você: a maconha é a porta de entrada para outras drogas?
"Não acredito que somente a maconha seja a porta para novas drogas. Todos nós sabemos de seu baixo custo, fácil acesso, maior índice de dependência entre jovens, mas o cigarro e o álcool também podem abrir caminhos para outras drogas mais fortes e com uma dependência química ainda maior. Acho que há vários fatores que influenciam nisso: idade e condição psicológica e financeira são pra mim os de maior destaque. Adolescentes sempre estão em busca de algo desconhecido, novo e proibido. Ás vezes essa ânsia desenfreada, faz com que eles procurem coisas ainda mais fora do comum, mais fortes. Pessoas que estão passando por momentos difíceis, onde procuram fugir do mundo real, acabam experimentando vários tipos de drogas tentando esquecer-se dos problemas. Há também quem diga que não tem medo de nada e que nunca vai adquirir nenhum vício! Começa pelo cigarro, álcool, maconha... Até começar a procurar algo que tire ainda mais a consciência, os sentidos. Acho que esses fatores que citei a cima levam o indivíduo a procurar drogas ainda mais fortes. Acredito sim no fato dos usuários, desta droga, terem uma dependência fortíssima, mas pra mim esse fator não faz com que a busca, para outros tipos de droga, apareça."
Manuela Véras, estudante do sexto período de odontologia.
20 anos.
"Não, a maconha não é a porta de entrada, o que acontece é que as pessoas confundem um pouco a 'hierarquia' com porta, e, simplesmente, ignoram outras drogas que são consumidas anteriormente. Se fosse para encontrar uma 'porta' para as drogas, por que não a cerveja, ou o vinho? Creio que estes são os nossos primeiros contatos com 'químicos proibidos'. Grande parte das pessoas que fumam maconha começou com cigarros simples de tabaco, mas este fato também é ignorado. Ignorado porque a sociedade se acostumou com pessoas fumando cigarro e tomando uma cervejinha durante o sábado ensolarado, e a maconha foi vedada desde o primórdio. Álcool e tabaco podem fazer muito mais mal a nossa saúde do que a cannabis, mas muita gente ignora fatos como advertências no verso das embalagens de cigarros e, também, os problemas de rim, fígado, pressão e coordenação motora que o álcool oferece. Dentre todas as coisas que seus pais jamais aceitariam que você fizesse, fumar maconha pode ser sim a primeira, mas nem de longe ela é algum tipo de porta."
Ana Claudia Marioto, redatora do Manifesto.
20 anos.
"No meu entender, não. Pode até ser, mas a verdade é que a maioria dos usuários nunca experimentou - nem vai experimentar - outros entorpecentes. A maioria das pessoas que me falam que sim sempre dizem que quem fuma maconha hoje, amanhã estará cheirando cocaína, e essa afirmação sempre vem de programas de TV e principalmente em debates políticos. Isso se tornou verdade depois de ser tão repetido, mas os usuários de maconha, hoje, não vão e nem querem experimentar outra droga ilícita. Raramente alguém usa cocaína uma vez sem ter provado álcool ou sequer um cigarro comum. Mas na verdade nem o álcool e nem o tabaco foram porta de entrada pra alguma droga ilícita. Se você pensar bem, faz sentido que a primeira droga usada por alguém seja a maconha, pelo simples fato de ser disponível e mais barata. Mas, acredite você ou não, não existe nada num baseado que estimule usuários a procurar uma droga mais pesada. Já li algumas pesquisas de que isso não existe. Na composição química ou farmacológica da maconha não tem nenhuma substância que leve o usuário a usar outras drogas. Mas isso não é uma regra, pode ser sim que alguns usuários procurem outras drogas, mas não quer dizer que eles vão usar essas outras drogas como a maconha. Alguns não vão atrás pelo simples fato de que eles sentem-se vulneráveis a outras drogas."
Guilherme Bassi, auxiliar de topografia.
20 anos.
"Não acredito que a maconha seja a porta para drogas mais pesadas. Nenhum estudo comprova isso e não conheço uma pessoa sequer que tenha começado com a maconha e hoje consome outros tipos de entorpecentes. Acredito que uma pessoa que cheira pó, pode sim se interessar por crack, por exemplo, porque ele oferece a mesma sensação só que potencializada. Acredito que quem cheira pó pode se interessar por LSD, por heroína, pelo mesmíssimo motivo. Quem fuma maconha não está atrás de euforia, muito menos hiperatividade. Quem fuma maconha, meu caro, não se interessa nem um pouco por drogas além dela mesma."
Natália Fiuza, redatora do Manifesto.
23 anos.
0 comentários:
Postar um comentário