Você me acostumou a continuar o assunto no outro dia como se não tivesse passado ao menos cinco minutos daquela piadinha ruim, mas que para nós fazia sentido. Me acostumou a ir além do que está escrito nas mensagens sobre músicas, filmes, textos ou bom dia, e tentar decifrar o que o sentimento tentou dizer, mas a razão escondeu.
Não sei, mas depois de você meu humor mudou radicalmente ao amanhecer. Não me preocupo mais só com a roupa, mas também com o sorriso que vou vestir. Você que me acostumou mal nisso, porque sempre insiste na ideia de que o que temos por dentro é muito mais sexy traduzido em um sorriso do que em um salto, e eu queria estar completa de alma pra você, para que os nossos corpos possam trabalhar bem.
Você me fez entender que não existem relações unilaterais ou de sentimento único. Relações não são simples contatos entre pessoas, mas sim entre espíritos. Espíritos estes que precisam de energia, de sentimento, de carne, de paz e de aconchego. Você me acostumou mal, porque agora eu não consigo mais chegar perto de pessoas incompletas.
Me acostumei a começar jogos com sorrisos e olhares, a brincar com o cabelo, a jogar indiretas e a ser ambígua. Você me acostumou a todo este teatro, afinal ninguém mais no mundo gosta tanto de desafios e acredita que, até mesmo, os nossos desejos fazem parte de um, como você.
Você me acostumou mal porque não consigo mais chegar lá e não ir te ver e também porque não consigo mais chegar lá sem ser com você.
Você me acostumou ao seu corpo, ao seu cheiro, ao seu ritmo e a seus jogos. Não sei mais ser com outra pessoa, não sei mais não ser nós. Não sei não sorrir com a sua voz, não sei mais não viajar sobre tudo, a não sentir energias e não sei mais não desejar você. Você sempre está aqui, e isso me acostumou mal.