Rap Combatente

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Fotos: Marilem SDS

Em 1993, em um dos piores lugares para se viver em São Paulo, Dogão, DJ CeSinha, Terno Maciel e o rapper Dimenor formaram o grupo Pânico Brutal para relatar através do rap a situação de pânico e brutalidade causada pelo abandono do Estado em relação à periferia.
Os militantes, como se auto intitulam, cantam o que é chamado rap combatente, sem pretensão comercial, e trazem através das suas letras conhecimento, ideologia e questionamentos das regras políticas do nosso país.

Após várias dificuldades e novas formações, hoje o grupo se apresenta com os militantes Terno Maciel, Beto Diadema, e Diego Soares. Entrevistamos o grupo e o resultado você confere abaixo.

Como começou o grupo?
Em 1993, época onde o Fundão do Ipiranga, era considerado um dos piores locais para se viver, por ser uma área de muita pobreza, com índices de homicídios altíssimos, Dogão e DJ cesinha que eram moradores da favela Boca da Onca, convidaram Terno Maciel e criaram o grupo de rap Pânico Brutal. Um tempo depois o rapper Dimenor veio fazer parte do grupo.

Como chegaram na formação atual?
Esta formação durou até o ano de 2010. Com a saída dos integrantes Dogão, Dimenor e DJ Cesinha - este que após um tempo desanimou e acabou tornando-se usuário de drogas pesadas, vindo a abandonar o grupo, amigos e família e indo morar na rua - o Pânico Brutal não acabou, Terno Maciel continuava a compor e a militar, e com o tempo convidou Diego Soares e Beto Diadema que por acreditarem no propósito do grupo vieram com força total fortalecendo o que chamamos de RAP COMBATENTE. Este mesmo rap combatente foi o que motivou a volta do DJ Cesinha, que hoje é ex usuário de crack é responsáveis por um programa de desintoxicação química denominado Crack Zero.

De que forma cada integrante contribui para o andamento do grupo?
Para o andamento do grupo, cada membro assume um compromisso de militar através do Rap e da cultura Hip Hop, participando ativamente de ações, voltadas para discussões , criação e estudos de iniciativas e políticas públicas que visem a dignidade do povo preto e pobre.

Como foi a aceitação da família, visto que no Brasil, ainda é muito difícil sobreviver da música?Diego Soares: Desde criança fui criado nas lutas populares, conheci o rap através de projeto de inclusão social e não tenho o rap como estilo musical e sim como protesto.
Terno Maciel: O rap sempre me guiou por bons caminhos, e ao conhecer o rap que me guiava, tive todo apoio dos familiares, inclusive dos que tinham algum preconceito a respeito do ritmo
Beto Diadema: infelizmente o rap não tem boa aceitação perante os meus familiares, por se tratar de letras que nos levam a raciocinar e a rebelarmos com nossa condição de viver em um país dividido por classes dominantes e dominadas. Para quem não tem essa ótica o rap é visto como musica agressiva e pessimista.

Quais são as expectativas do grupo, o que almejam através do som que produzem?
Nunca buscamos sobreviver cantando rap, até porque fazemos rap combatente e não comercial. Acreditamos neste estilo que nos manteve distante das drogas, que nos deu respeito, motivos e incentivos para estudar, trabalhar e para andar de cabeça erguida. A expectativa é elevar através do nosso som a auto estima do povo favelado, fomentar a indignação, para o questionamento das regras políticas, econômicas e sociais.

A música forma opiniões. Ao mesmo tempo que adultos ouvem rap, crianças também ouvem. Como é lidar com essa responsabilidade? Por se tratar de um grupo que narra fatos reais, automaticamente atingimos todas as faixas etárias, assim sendo, nossa responsabilidade é a de não criar ficções e sim relatar a vida periférica como de fato é.

Como o Rap está sendo visto pela sociedade atualmente? Com a inserção em novas classes, ainda existe algum preconceito estabelecido?Parte da sociedade vê o Rap como forma de entretenimento, outra parte ainda acredita que o rap faz apologia ao crime e que seus adeptos são marginais. Porem o alto teor critico de alguns grupos, vem despertando o interesse de estudiosos que acreditam e defendem que o rap é a musica que da voz a uma parcela excluída da sociedade. A sociedade sente-se incomodada com nosso mecanismo de denúncia. Há quem se apropria do rap como entretenimento e neste quesito é louvado pela sociedade, mas a mesma não compreende que o rap combatente não faz parte do entretenimento midiático.

O que é o Rap e a cultura Hip Hop para vocês?Rap é um manual de conduta, que guia todos nossas ações para atacar ou se defender quando necessário for. Para expressar todas as formas de sentimentos, alimentando nossos sonhos e destruindo as barreiras que tentam limitar nossos passos.


Projetos paralelos

Cada integrante do grupo toca projetos paralelos voltados para a militância, através do hip hop e movimentos sociais.

Esporte Clube Favela - que reúne futebol, Rap e Samba
Núcleo Cultural Poder e Revolução - com saraus e oficinas voltadas para crianças e jovens
Oficina de MCs
Fórum de Hip Hop do Ipiranga
Fórum de Hip Hop Municipal
Coletivo Perifatividade
Oficina de Vídeo
Pânico Nas Ruas - O rap de volta as ruas das periferias
Projeto Crack Zero