23 dias com ela

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Num fim de semana X de um mês Y, ela apareceu na minha timeline com uma explosão de postagens, que denunciavam a sua personalidade e, para mim, soavam como um convite para entrar naquele mundinho onde sempre tocava Tim Maia e Jorge Benjor.
Estranho dizer, mas ela não tinha a beleza que me agradava, a cor que me agradava, nem o corpo que me agradava. Seu cabelo era uma metamorfose e cada dia tomava uma forma diferente. E seu olhar, seu olhar nunca dizia nada, mas sempre dizia tudo.
Sempre perdia a oportunidade de ficar calada e nunca perdia a oportunidade de falar besteira. Não aceitava carinhos nem elogios, acreditava que um cafuné fazia dela mais fraca, e sempre desviava dos meus beijos fora de hora. Ficava sem graça a cada elogio meu e tentava disfarçar contando uma piada que, na maioria das vezes, era muito ruim.
Nunca serei capaz de explicar sem contradições como era aquela menina. Pele morena, mas nem tanto. Alta, mas nem tanto. Magra, mas nem tanto. Bonita, mais ou menos, nem tanto.
Estranho dizer, mas ela me ganhou na estranheza, na peculiaridade, no discurso barato sobre não se apaixonar, no jeito espontâneo de mandar o mundo inteiro ir à merda, na coragem de dialogar sobre qualquer assunto em qualquer lugar, no gosto musical incrível e na boca mais suja que eu já conheci em toda a minha vida.
Difícil admitir, mas eu errei feio ao achar que já sabia tudo sobre ela. Sua personalidade nunca foi denunciada, e aquela menina não era nada daquilo que eu imaginava. Seu interior fazia um contraste incrível com o exterior e eu fui só mais um que se achou capaz de decifrá-la.
É estranho dizer, mas eu ainda não apaguei o histórico das nossas conversas, nem as fotos que ela me enviou. Seus áudios ainda estão aqui guardados e são eles que me ajudam a lidar com a falta que ela faz.
23 dias com ela fizeram eu me encantar pela pessoa mais improvável do universo. E perdê-la por algum motivo que ainda desconheço.

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